Diogo

Quando ele passa, todos meus sentidos são dele. Os dias se tornam anos e toda pressa se torna calma… Eu peço outra dose e ele nega, ele pede paciência e todos meus vícios gritam por mais cafeína.

O sempre é intenso, breve, bonito, doce e leve como a fumaça quente num país frio. Então ele me apaga e eu re-escrevo. De um jeito que nunca vai ser o mesmo.

Ele tem uma pintinha no rosto e me olha como quem vai ficar ali para sempre, antes de sair correndo, antes do show começar, antes do meio, antes do fim.

Se ele para, eu continuo. Se eu complico, ele complica. Se eu explico, já não faz mais sentido. E todos os meus sentidos ainda são dele.

A Renata

Era uma vez, além das colinas distantes…. Não, pera…! Esse conto vale uma oração, vale o meu amor. vale o que não cabe na dispensa…

Como sempre, cheguei afoita, cheia de prosa, pouco recato, nenhum aviso. Ela sorriu e nunca mais saiu de onde deveria estar. Dentro daquele abraço, que sempre junta todos os meus pedaços.

Ela era toda rima e verso, eu só o avesso de alguém completamente perdida. O dia passou, a semana, os anos… E junto eu fui, na garupa e pela mão.  Desde então foi toda uma playlist, brigadeiro e incompatibilidade geral de gosto cinematográfico.

Renata é de Leão, drama e pirraça. O pior é que…

Minha vida não daria um livro, em contra partida, minha história com a Renata, soma várias vidas, e enquanto existir uma música brega tocando, lá estaremos. Cantando contra o ritmo.

O moço que não é o moço do aplicativo.

Hoje eu acordei bem cedo, ainda era noite e eu não queria esperar amanhecer. Eu nunca quero esperar. Coloquei a água para ferver e tentei juntar meus pedaços caídos no chão. Eu ainda tento entender, pensando na louça suja de ontem. e a água já vai ferver.

Estamos presos em qualquer momento entre o ontem e um amanhã improvável.

Café é melhor antes de ferver, para minha fé não esfriar.

Rodrigo

Te escrevo com um livro aberto e uma xícara café forte.
Estou na casa dos meus pais. A escrivaninha é muito antiga, daquelas que têm uma tampa, parece piano. Tem uma pintura da cidade, pendurada na parede. Um porta incenso e nossas fotos de infância. Também um biscuit tão patético. Uma mandala  esotérica que trouxe para minha mãe do México, em 2010.  Alguns dos meus pedaços estão aqui, e você não me conhece, eu não conheço você. Te escrevo por absoluta necessidade.

Eu já me acostumei tanto com a melancolia que a recebo como uma velha amiga.
Isso é o que eu ganho por chutar a religião na bunda. Eu deveria ter chutado minha carreira e sair de banda.

Ouço a música da década retrasada e sorrio. Há alguma coisa errada comigo alem da melancolia.

cabeceira

Minha vida não daria um romance. Sou filha de sonetos, filmes de guerra e canções de amor, desses amores que afinal, nunca deram certo. Mas é meio sem sentido ficar pensando em jeitos de escrever se ninguém nunca vai ler. Talvez eles me impeçam até mesmo de contar o que se passou. Mas há dias está tudo escuro e a luz do meu celular não vai acordar ninguém.